E quando a R.A.I.A. não limita e assume-se como lugar de timoneiros?!

August 6, 2024

O nome assenta que nem uma luva: R.A.I.A. para desenvolver o mundo rural e as suas latitudes, precisamente, na raia. Em castelhano o nome original desta estratégia de atuação é «Red de Apoyo a la Innovación Rural»; e que sabemos lê-lo, perfeitamente, numa tradução intuitiva para o português. É no limite entre os dois países que as línguas mais se cruzam e mais deixam marcas uma na outra. A Associação In Loco – sedeada em São Brás de Alportel – na serra do Algarve, é uma das parceiras da estratégia de desenvolvimento rural R.A.I.A. Em si mesma, esta estratégia trata-se de uma rede que pretende crescer, consecutivamente, com o fito de dotar a administração pública, entidades e empreendedores do território com ferramentas que permitam inovar na cultura agrária (e tudo o que isso possa significar) na área rural raiana que abrange a «Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia». O objetivo é a mudança para melhor onde o aumento das oportunidades de negócio venham de um terreno cada vez mais permeável a novos desafios e oportunidades.

 

Imagem de Capa: Cláudia Tomé Silva

Auscultação à população será pedra de toque da estratégia R.A.I.A

“A cooperação transfronteiriça mostra-se muito importante para lançar as bases de um modelo de governança de inovação rural”, explica-nos Artur Gregório da In Loco. Sustentabilidade passa por regenerar os locais através de novas estruturas e novos mecanismos de atuação que tenham em conta a população que habita no território-alvo e a população que poderá sentir-se atraída a chegar de novo ou pela primeira vez. “Para que a sustentabilidade seja real não podemos ficar reféns da duração de cada programa de apoio financeiro”, sublinha Artur Gregório, profundo conhecedor do mundo rural, dos territórios de Interior, do Desenvolvimento Local e da Cooperação. Podemos adivinhar um crescendo dos momentos de auscultação da população e consequente desenho da estratégia. “A comunidade caiu em descrença no que diz respeito aos processos participativos”, testemunha Artur Gregório que com a sua equipa está empenhado em recuperar essa confiança e aumentar a participação cidadã. Nâo se adivinha tarefa fácil, mas vem na lógica de atuação que é também de utopia e sonho – onde tudo ganha força para se materializar.

Auscultação e brainstorming são passos considerados seguros pela equipa transfronteiriça

O presente e o futuro está a ser desenhado a muitas mãos. Primeiramente, daquelas que conhecem mais profundamente as dinâmicas dos fundos estruturais e que os aproveitam, recorrendo à criatividade e a assertividade. Depois será com muitas mais mãos que se mostrem disponíveis em integrar a cadeia de valores. E essas mãos já vão surgindo, nomeadamente, através de vários momentos de «partir pedra» que vão acontecendo, e que são apelidados de «hackaton». Em torno de frutíferos momentos de brainstorming juntam-se entidades, empresas, empreendedores… O objetivo é que surjam mais à frente novos negócios, ideias e empresas e que o território abrangido pela estratégia seja mais ocupado de forma fértil e condizente com o que a população sonha para ele. “Sem dúvida que os projetos surgem para colmatar necessidades não satisfeitas, questões que não estão resolvidas. Sistematicamente, temos tidos projetos, mas a estes projetos, que são pontuais e contextualizados no tempo e no espaço, temos de alinhar estratégias. Linhas de longo prazo que permitam  criar dinâmicas de maior duração.Uma base para que a sociedade dê continuidade e co-construa soluções”. Artur Gregório está convicto que a R.A.I.A. vem  criar uma possibilidade renovada de que a sociedade se envolva mais e melhor.

Há uma crise no desenho dos programas de financiamento que é preciso travar

A comunidade local está a ser envolvida no processo de modo a que a estratégia reflita as necessidades do território de fronteira

Nesta conversa com Artur Gregório fomos até ao fundo da questão que nos conta sobre os territórios e seus agentes de desenvolvimento e debatemos os constragimentos que foram surgindo com o autêntico “desmantelamento de programas que foram desvirtuados naquilo que é a abordagem integrada e o envolvimento das pessoas”. O desenvolvimento local e rural é muito mais do que agricultura: é cooperação, é gastronomia, é qualidade de vida, é identidade cultural, é património, é serviços sociais. A In Loco assinou um Manifesto de âmbito nacional das Associações de Desenvolvimento Local (ADL) para que as entidades responsáveis pela criação, desenho e gestão dos fundos  sejam chamadas à atenção: porque o caminho diminuiu, bem como a eficácia dos seus financiamentos; o que tem limitado a  inovação e a criatividade de quem está no terreno. Artur Gregório recorda a perda de autonomia das ADL’s face ao desenho dos programas de financiamento que deveriam refletir “muito mais as necessidades das comunidades”. E depois admite que esses mesmos mecanismos não têm permitido “travar o envelhecimento das comunidades”, sendo necessário “reiventar e recativar os filhos e os netos para os lugares que têm qualidade de vida e que só não são mais habitados porque não têm as condições para tal” à luz das exigências dos novos tempos.

R.A.I.A. está aberta a todos os agentes de mudança

A estratégia R.A.I.A. está a ser desenhada em conjunto no Alentejo, Algarve e Andaluzia

As entidades ou pessoas que colaborarem com o projeto R.A.I.A., através da sua opinião ou ideias, estarão a integrar a futura rede e plano de ação; o que represenra o início de futuros projetos. E poderão também beneficiar de atividades formativas e suporte técnico, beneficiando da ação e inovação criados. Entretanto, a estratégia R.A.I.A está disponível online aquiSão parceiros neste projeto: Agência para a Gestão Agrária e Pesqueira de Huelva, Diputacion Provincial de Huelva, Comunidade Intermunicipal do Alentejo, Cercania Consultores, In Loco, Ayuntamiento Pueblo de Guzman, Câmara Municipal de Mértola, ADPM, ADC Moura e a CCDR Algarve.

 


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