“O nome MUROS pretende sublinhar de forma evidente a ideia da obstaculização que o ser humano cria e que lhe retira a capacidade de caminhar no sentido do que é, realmente, mais importante. O logótipo do nosso projeto surge como chamada de atenção, sendo, no limite, um forte apelo ao grito. É urgente refletir sobre a figura da «Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia» e encarar este espaço para além do seu estatuto polítido simbólico; mas que, na realidade, diz muito pouco às pessoas que o habitam. É urgente utilizar a palavra para comunicar sobre os problemas deste território [grandemente interiorizado e silenciado], que une dois países e três regiões, bem como é determinante procurar pistas sobre as soluções. É determinante evidenciar o potencial desta eurorregião enquanto espaço geográfico com uma escala significativa e onde os seus cidadãos deverão ter oportunidade de usufruir das oportunidades que aqui vão surgindo ou podem ser criadas com foco e determinação no âmbito de um desenvolvimento mais sustentável porque é pensado, desde logo, a partir das pessoas. A palavra tem, sem dúvida, um importante papel para que junto das pessoas consigamos perceber o que as limita, o que lhes obstrui a visão de escala, o que lhes provoca a sensação de abandono e silenciamento e que, por isto tudo, as afasta da participação cívica em prol de um território mais à semelhança dos seus interesses. Não podemos encarar com naturalidade [e sem inquietação] que as pessoas que vivem numa eurorregião, que usufrui de um estatuto particular e de uma cooperação transfronteiriça que move milhões de euros de fundos para o desenvolvimento, não saibam, na sua maioria, que a mesma existe e que pode [leia-se, deve] ser desenhada muito mais à medida de quem a ocupa”.
Susana Helena de Sousa, autora do projeto [ver Curriculum Vitae]
Fotografia: Eduardo Pinto