«É necessário dar sinais inequívocos de mudança. Criar oportunidades para que cada jovem se sinta motivado, se sinta visto e ouvido, bem como se sinta incluído no sistema»

Dezembro 12, 2022

O MUROS foi convidado a realizar a moderação e facilitação em Castro Marim, Algarve, do segundo dia do Andalusíadas Jovens 2022. Um evento de cooperação transfronteiriça que juntou jovens, empresários e políticos do Alentejo, Algarve e Andaluzia. Ou seja, da Eurorregião AAA. Susana H. de Sousa para além da facilitação no encontro levou a cabo uma reflexão que pretendeu que fosse também mote para debate e ponto de partida de trabalho. Em destaque os jovens e o seu futuro numa visão holística na sociedade.

“Esta a ter lugar hoje segundo dia do evento «Andalusíadas Jovem 2022». Começou ontem, 21 de Outubro, em La Rábida (Huelva, Espanha) e hoje espera-nos um dia de mais discussão fundamental em Castro Marim (Algarve, Portugal). Enquadrado no Ano Europeu da Juventude 2022 e sob a coordenação de diversas entidades* que ao trabalharem juntas dão corpo à cooperação transfronteiriça, o evento faz parte das atividades de dinamização da Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia (AAA)**. A iniciativa e toda a sua metodologia de trabalho mostra, claramente, estar de olhos postos no Ano Europeu das Competências 2023 [que visa estimular a aquisição de competências essenciais e digitais ao longo da vida, tanto para a adaptação ao mercado de trabalho como, também, para o exercício da cidadania ativa].

De um lado e outro do rio está a ser dado espaço aos jovens para ouvir e debater «cara-a-cara» (num exercício raro face ao frenesim das redes sociais!) sobre a participação política e o Pilar Social Europeu.

Sobre a participação política é de referir a importante Conferência sobre o Futuro da Europa (CoFE) que permitiu que 800 mil cidadãos e cidadãs da União Europeia (muitos deles jovens) debatem-se com representantes políticos e sociais. Aliás, o seu início ficou marcado por um encontro com jovens! A CoFE permitiu chegar a diversas conclusões em cada Estado-membro e criar um relatório comum. A que conclusões se chegou em Portugal? Dentre outras:

  • Criar melhores condições para acolher imigrantes e refugiados
  • Combater a xenofobia
  • Investir na informação sobre as alterações climáticas
  • Apoiar a agricultura sustentável
  • Combater a desertificação
  • Maior exploração do Tratado de Lisboa para a tomada de decisões mais eficientes e democráticas, bem como o reforço do papel das autoridades locais. Foi pedido que se melhore através destes mecanismos a gestão dos fundos europeus.
  • Reforço da política de coesão e fixação de pessoas no Interior do país através do investimento em infraestruturas
  • Uma Europa mais competitiva com autonomia estratégica que concilie as transições climática e digital numa Europa que se quer mais social
  • Mais apoio na saúde e promoção de educação para a saúde
  • Maior fidelidade aos valores da União Europeia e construção de um projeto comum assente na solidariedade e justiça social
  • Investir na formação e educação dos jovens. Maximizar a capacitação para enfrentar a concorrência global

 

E os jovens também fizeram apelos:

  • Mais incentivo e mais envolvimento dos jovens na vida pública
  • A União Europeia tem de se reinventar regularmente
  • O programa Erasmus + deve impulsionar o reforço da União Europeia e intercâmbio cultural dos jovens

 

Mas para além da participação política sabemos que o que impulsionou também este «Andalusíadas Jovem 2022» chama-se «Pilar Social Europeu». E porquê? Porque o seu conceito é muito nobre, importante e necessário. É importante dizer que este projeto foi adoptado durante a Presidência Portuguesa do Conselho da Europa (primeiro semestre de 2021). O grande objetivo do Pilar Social é garantir aos cidadãos da União Europeia novos e mais eficazes direitos sociais. Com três grandes capítulos: igualdade de oportunidades e acesso ao mercado de trabalho, condições de trabalho justas e proteção e inclusão sociais. Como imaginam há muito para se fazer neste âmbito e a particularidade do projeto é que tem uma calendarização para se irem cumprindo metas. Na minha opinião, temos todos de estar atentos, acompanhar e intervir!

Apesar de serem jovens, eu gostava que refletissem de uma forma holística, ou seja, que pensassem em vocês, de uma forma, necessariamente, individual e centrada, mas também imaginando-se em faixas etárias mais elevadas. Até à vossa velhice. Que pensassem, construindo o vosso futuro. Inspirem-se na vossa experiência enquanto jovens, nas vossas dores e nas vossas alegrias, mas enquanto seres sociais que lidam com as grandes questões dos vossos amigos e familiares; desde os que estão em plena idade ativa até aos que estão a viver a reforma nas mais variadas condições. O que é que não gostavam que acontecesse convosco? O que gostavam de preservar? Pensem no que vos é dito: Que angústias? Que sonhos?…

Uma vez que as competências da União Europeia são limitadas, sendo os Estados-membros soberanos qual deve ser a vossa relação com a União Europeia. Começando, desde logo, a olhar para as estruturas locais que fazem a ponte com a EU. Temos as autarquias, mas no lugar onde nos encontramos [Castro Marim] estamos em plena Eurocidade do Guadiana (Castro Marim, Vila Real de Santo António e Ayamonte) que se insere dentro da figura Eurorregião AAA. Como tornar a EU mais justa através da participação política e do pilar social?

Os dados do Eurostat e Labour Force Survey mostram-nos que em 2020 em Portugal tínhamos 181 mil jovens NEET (que não trabalham nem estudam ou estão em formação). Estamos a falar de jovens entre os 15 e os 29 anos. Os dados são claros e contam-nos que a maioria dos jovens NEET (45%) tem entre 25 e 29 anos, seguindo-se 44% entre 20 e 24 anos e 10,9% entre os 15 e os 19 anos. Face a 2019, o número de jovens NEET aumentou por 20,7%. Contudo, os dados do Inquérito ao Emprego do INE para 2021 apontam para um decréscimo de 13,5% do número de jovens NEET face a 2020.

O que se passa com os jovens que com a idade a passar vão estando cada vez mais desmotivados e vulneráveis? Onde reside o problema? Quem lhes fecha as portas, também? Como é possível reabri-las? O que leva os jovens a que, mais do que desempregados, sejam inativo? O que os pressiona a não ter capacidade de sair dessa realidade?

Alguns de vós estão nestes números? Já se questionaram? Têm pessoas próximas nestas circunstâncias?

Eu também li, algures num outro estudo, que a verdade é que os jovens nos dias de hoje mais do que um emprego que seja um trabalho querem um emprego que represente uma missão de vida num comprometimento com o mundo e as suas circunstâncias. Também é isso que vocês querem? Sonham? Sabem como fazê-lo?

Agrada-me muito a ideia dos jovens poderem sonhar e sou contra a ideia de castrarmos os seus sonhos com os medos dos adultos, as suas fobias, traumas e desalentos. Não temos o direito de lhes interromper o sangue na guelra que percorre as veias com a quentura própria da idade. Mas é muito importante sabermos se esses jovens têm um lugar no coração dos políticos e dos empresários.

Onde estão os políticos e os empresários para jovens com pensamento crítico, analítico e livre!? Os jovens que acreditam no seu talento: essa mais-valia que a sociedade precisa para gerar riqueza e, assim, combater a pobreza de uma forma sustentável. Onde estão os políticos que não vêm os jovens, os cidadãos, as pessoas como um peso na esfera da solidariedade e segurança social!? Onde estão os empresário que não vêm os jovens, os cidadãos, os trabalhadores, as pessoas como um número? É necessário dar sinais inequívocos de mudança. Criar oportunidades para que cada jovem se sinta motivado, se sinta visto e ouvido, bem como se sinta incluído no sistema. Que seja motor para contribuir para uma sociedade mais justa!

*Para além do Secretariado Geral para a Acção Externa, União Europeia e Cooperação do Ministério regional da Presidência, Interior, Diálogo Social e Simplificação Administrativa da Junta de Andalucía (Governo regional da Andaluzia) e das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regionais do Alentejo e Algarve, todas elas parceiras do projeto GIT EuroAAA, vale também a pena destacar a participação do Conselho Andaluz do Movimento Europeu nesta iniciativa, que tem promovido desde o início. Os Europedirect do Alentejo, Algarve, Huelva e Sevilha estão também a colaborar nesta Andalusíadas Juventude 2022.

**Através do projeto «Gabinete de Iniciativas Transfronterizas Eurorregião Alentejo-Algarve-Andaluzia POST 2020″, GIT EuroAAA, do Programa de Cooperação Transfronteiriça Interreg V -A Espanha-Portugal (POCTEP) 2014-2020.

Susana Helena de Sousa
Formação superior e experiência profissional em Jornalismo
Autora do projeto «MUROS»


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