Afinal, o que nos diz o comportamento de não voto? De onde vem a abstenção eleitoral?

June 3, 2024
A característica que mais impacta na abstenção eleitoral é a idade. Numas eleições como as Europeias, que têm lugar já no próximo domingo [9 de Junho], o não voto tem sido uma tradição marcante onde os mais jovens são protagonistas. Nuno Almeida é licenciado em Psicologia, Mestre em Psicologia Social e das Organizações e Doutorando em Psicologia. Tem estado envolvido em inúmeros estudos dedicados ao tema da abstenção eleitoral, e partindo do pressuposto que “ocupamos todos o mesmo espaço”. Lembra, desde logo, que é preciso não estigmatizar quem não vota, realçando que, atualmente, “temos uma minoria a representar a maioria”, pois a abstenção eleitoral, nomeadamente nas eleições europeias, ascendeu em 2019 a cerca de 70%. Mas “e se o voto não for um processo tão individual como se pensa!? Se for, sim, um processo social aprendido!?”. A menos de uma semana das eleições europeias, publicamos no nosso canal de podcast esta entrevista que deveria ser ouvida, particularmente, pelos políticos que tanto persuadem, mas muito pouco parecem convencer. 

 

A atitude dos jovens perante o ato de votar é positiva, mas contrasta [e muito!] com o comportamento na hora de se dirigirem às urnas. Quer isto dizer que, apesar de encararem o ato de votar como válido e importante, na «Hora H» os jovens encontram vários muros que os impedem de levar a bom porto o seu voto. Contribui para isto, sem sombra de dúvida, “a dimensão da ignorância; ou seja o não saber como votar porque não foi aprendido”, explica Nuno Almeida, frisando que também tem muito peso a falta de acessibilidade física ao voto. A menor abstenção jovem só será uma realidade se novos métodos e ferramentas advierem de um maior conhecimento por parte dos políticos sobre o estado da arte da desmotivação que tem levado a tão expressiva abstenção eleitoral. O fenómeno social da abstenção não é exclusivo de Portugal, sendo uma tendência europeia. Nuno Almeida, que é também assistente convidado do Departamento de Psicologia e Ciências da Educação da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, lembra mesmo que “a crescente abstenção eleitoral entre os jovens tem-se ainda destacado como um desafio mais significativo para a democracia moderna”. Em Portugal, entre 1975 e 2022 a abstenção subiu mais de 40%. O investigador foi um dos participantes residentes do ciclo «UNIDOS PELA DEMOCRACIA», levado a cabo pelo Europe Direct Algarve, com inúmeros parceiros individuais e coletivos. O objetivo deste ciclo foi contribuir para contrariar a abstenção jovem na região algarvia onde os dados mostram que 3 em cada 4 jovens não têm votado em Eleições Europeias.

Investigador da Universidade do Algarve afirma que a literacia política é uma lacuna programática da escola pública

Os mais de 600 jovens universitários que Nuno Almeida já auscutlou no âmbito dos seus estudos têm revelado inúmeras pistas sobre as razões para não votar. Desde promessas eleitorais não cumpridas, passando pelo sentimento de falta de representatividade denunciam um descontentamento elevado. A isso soma-se a inacessibilidade ao voto. Um dos «pontos negros» do fenómeno abstencionista está relacionado com a lacuna em que se consubstancia a iliteracia política. “Não se aprende nas escolas como se vota, não é tema e deveria ser”, atira Nuno Almeida. Contudo, os jovens que se abtêm são os mesmos que se mobilizam em movimentos contra as alterações climáticas, pela defesa do ambiente, preocupados com os direitos humanos e que reivindicam políticas públicas adaptadas aos novos tempos. Afinal, duas mãos não chegam para enumerar os muros que separam os cidadãos das urnas e por essa razão, Nuno Almeida, deixa inúmeros tópicos que deveriam ser escutados para serem feitas as pontes necessárias para a melhor versão da nossa democracia.


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