É preciso celebrar o «25 de Abril» e lembrar as suas conquistas. É preciso conquistar novas vitórias. É preciso utilizar a palavra, a arte e a liberdade de expressão para denunciar, causar impacto e promover mudança. O caminho é inacabado e a celebração esta terça-feira por parte da biblioteca municipal Vicente Campinas, em Vila Real de Santo António, demonstrou que são precisas muitas mais tertúlias para a partir do seio da comunidade plural – e não a partir das bolhas – refletirmos e avançarmos em conjunto.
O painel desenhado para lançar os tópicos para a conversa em torno do Dia Mundial do Livro e dos direitos de autor, bem como dos 50 anos do 25 de Abril, era bastante plural e com visões e experiências bem distintas. O prémio Leya 2021 – José Carlos Barros; a diretora do Jornal do Algarve; periódico que este ano celebra 67 anos de vida (leram bem, 67!) – Maria Luísa Travassos; o decano do jornalismo, autor de inúmeras obras literárias e muito conhecido também como speaker da Volta a Portugal – Neto Gomes; a professora e artista plástica – Elisabete Guerreiro; o jornalista e escritor – José Estevão Cruz que cantou várias canções sobre liberdade. A estes juntou-se Bruno Gomes – professor premiado com menção honrosa do Global Teacher Prize em 2021 – por ter levado a cabo em tempo de pandemia um ensino à distância inovador. E do público as contribuições – entre sublinhados, divergências e novas ideias – foram bastantes e teriam sido muitas mais se o tempo das duas horas e meia que durou a tertúlia duplicasse.
Desde a palavra escrita num romance para fazer a justiça, que fora da literatura tantas vezes é escassa ou inexistente e que esquece os já esquecidos e silenciados, como referiu José Carlos Barros. Até à “aventura” que é manter um jornal regional com as difuldades “que todos sabemos” e em prol de uma palavra que tem de levar longe o eco dos problemas das gentes do território, tal como disse Maria Luísa Travassos. Passando por Neto Gomes que não foi meigo com as palavras quando referiu que precisamos avançar nos atos “para além dos poemas e as suas palavras bonitas”, num tom cuja revolta vem do saber de experiência feito e que denuncia um D de Desenvolvimento ainda por cumprir. Até irmos “à melhor escola do mundo” que fica em Vila Nova de Cacela (concelho de Vila Real de Santo António) e onde lecciona a professora Elisabete que utiliza as suas disciplinas de arte, design e tecnologia para mostrar contextos, realidades e contribuir para a construção de um espírito crítico. Ou seja, não apenas para criar artistas, mas sim para tornar alunos e alunas em pessoas com mundo e perspetiva. Todo este sumo de comunicações coloquiais foi Intercalado com as músicas que nos contam sobre um mundo desejado onde os discursos de ódio, racismo ou outros que tais não têm espaço; onde o sonho comanda a vida, tal como cantou também José Estevão Cruz. Finalmente, chegámos à contribuição de Bruno Gomes, que veio de Faro, do agrupamento de escolas João de Deus, para nos falar sobre a escola e a necessidade de “fazer-se algo novo realmente promotor de mudança” porque há muitas crianças e jovens que “estão vários metros atrás do ponto de partida” e que a distância que os separa dos outros tem tendência para aumentar.
Do público, e da parte das pessoas jovens que estavam entre aquele, foi manifestado um alerta de que é preciso mudar a comunicação se queremos que as gerações mais novas se sintam implicadas em iniciativas como a que a tertúlia promoveu. Se queremos que não caiam nas malhas de um populismo que é vampiro; e que se puder come tudo. A ideia de que é urgente tomarmos consciência do sistema e dos seus cisnes negros também passou, a páginas tantas, noutro contributo. E depois, de braços ao alto gritou-se «Viva o 25 de Abril». Como não podia deixar de ser!
Ao fim e ao cabo, não podemos nunca celebrar os 50 Anos do 25 de Abril sem pensar que os 50 que aí vêm têm de projetar a democracia na sua melhor versão.
A Guadinforma, projeto da Carmo Costa, esteve no local e em breve poderá assitir às filmagens aqui desta tertúlia que deixou sementes e sobre a qual não há nenhuma palavra que substitua o ato de estar presente.
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