Foi em plena Eurocidade do Guadiana, mais propriamente na cidade andaluza de Ayamonte, no passado dia 24 de Novembro, que as mulheres tiverem, mais uma vez, espaço e tempo para partilharem como vai a sua jornada de vida – que as instiga a vestir e despir muitas peles. São mães, filhas, empresárias, cuidadoras, sonhadoras, castradas, empoderadas, visionárias; e às vezes [não raras] também ficam cansadas. Um cansaço por se terem de justificar, constantemente, perante um sistema social que ainda privilegia muito o género masculino em detrimento do género feminino; quando o que deveria ser a norma é privilegiar a pessoa na sua amplitude. A organização esteve a cargo da Eurocidade do Guadiana, com a participação directa dos sócios do programa EuresTransfronteiriço Andaluzia-Algarve, e com o apoio da Universidade do Algarve através do CRIA e dos Centros Europe Direct de Huleva e Algarve.
O Centro de Congressos de Ayamonte ganhou um novo fôlego com um encontro transfronteiriço de mulheres inserido nas atividades do Ano Europeu das Competências, com o qual a União Europeia pretende impulsionar a aprendizagem contínua. Segundo a organização, a premissa foi “reunir mais uma vez o talento feminino ao longo da fronteira, e contribuir com ferramentas e workshops para promover o empreendedorismo e iniciativas laborais que fomentem a presença feminina”. Mas podemos dizer (porque estivemos lá!) que houve muito mais do que isso. Houve partilha genuína e desassombrada, houve exposição honesta de limitações e houve ganhos de confiança entre as participantes e as instituições que organizaram o evento.
Eurocidade do Guadiana quer ser a capital da «Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia»
A manhã dedicada às mulheres empreendedoras do Algarve e Andaluzia iniciou-se com a comunicação de autarcas representantes de cada localidade da Eurocidade do Guadiana, também anfitriã do evento. Da parte dos representantes dos municípios ficou a mensagem do enorme potencial do espaço «Eurocidade do Guadiana» enquanto lugar sem muros, em que as pontes deverão unir os dois países e otimizar oportunidades. Álvaro Araújo, presidente da câmara municipal de Vila Real de Santo António, revelou que se estão a realizar esforços para que a Eurocidade do Guadiana venha a ser a capital da «Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia» (AAA), frisando a centralidade que tal pode configurar ao território onde se inserem Castro Marim, Vila Real de Santo António e Ayamonte. Apesar de um evento repleto de motivação, sabemos o quão difícil ainda se mostra que as mãos se unam entre os dois lados da fronteira. Cabe às entidades impulsionar em momentos episódicos como este encontro, mas a cidadania participativa tem de ser realmente melhorada de modo a que se torne uma prática comum, uma competência, assumirmo-nos como parte integrante num lado e outro do rio Guadiana. As pessoas que habitam este território não são parcas ao denunciarem a ignorância de que sofrem sobre o que é isto de «Eurocidade» ou do que é isto de «Eurorregião». É todo um tema que tem de ser muito mais trazido para a esfera cidadã, tal como temos visto corroborado pelas inúmeras pessoas entrevistadas no nosso Muros, onde imaginamos uma Eurorregião AAA muito mais construída a partir também da visão das pessoas que nela habitam.
Exemplos de três mulheres energizantes e inspiradoras
Seguiram-se testemuhos mutíssimo inspiradores de três mulheres únicas e com vontade de partilhar os seus fracassos e os seus sucessos. Desde a reconhecidíssima empresária Sandra Correia, CEO da Pelcor – empresa de design de cortiça – que depois de um sucesso mundial optou por vender a marca “que a escravizava” e dedicar-se à área de coaching. É de referir que Sandra Correia foi eleita melhor empresarial da Europa e melhor mulher de negócios internacional nos Estados Unidos.
Por seu turno Mabel Román Bayo, mostrou que num mundo tipicamente de homens conseguiu impor-se (e de que maneira!) como diretora de logística da transportadora Transroman. Com uma educação tipicamente patriarcal fez completamente diferente e hoje dá a alma de mulher num negócio onde ainda eles são em maior número.
A argentina Carolina Nerbutti mostrou como a opção (para muitas, improvável) de vir para Ayamonte, Espanha, permitiu que aqui centrasse o seu coração e fizesse crescer um negócio único na área do desporto nas regiões de Andaluzia e Valencia com a empresa FlowTraining. Uma empresa que já existe de um lado do outro do rio, sendo que do lado português tem as portas abertas na cidade de Faro.
Superação, superação, superação. Esta foi a palavra mais assimilada pelos testemunhos brilhantes destas três mulheres.
Workshops de capacitação: desde plano de negócios e propriedade intelectual até oportunidades de negócios
Antes do almoço de networking, houve ainda lugar durante a manhã para a realização de diversos workshops de capacitação promovidos pelas várias entidades envolvidas na organização do certame, e em áreas como: plano de negócios e propriedade intelectual, direito fiscal e normas laborais transfronteiriças, oportunidades dos Centros Europe Direct Huelva e Algarve, e um espaço com os conselheiros EuresT de ambas as regiões para resolução de dúvidas de empresas e trabalhadores. Recorde-se que o Encontro Transfronteiriço de Mulheres Empreendedoras integrou as ações do projeto Eures Transfronteiriço, com o qual a União Europeia pretende impulsionar a aprendizagem continua, oferecendo capacitação às pessoas e empresas que contribuam para a transição ecológica e digital, dando especial relevo o apoio à inovação e competitividade. “A representação menor de mulheres em profissões e estudos relacionados com a tecnologia e ciência justificam que nestas acções se potencie a presença feminina”, sublinha a organização.
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