(PODCAST) «As Eurorregiões deveriam ter uma representação em Bruxelas para fazer valer os interesses das suas populações»

Setembro 2, 2023
Pedro Valente da Silva é Chefe do Gabinete do Parlamento Europeu em Portugal. A menos de um ano das eleições europeias [9 de Junho de 2024] fala em diversos paradoxos que é preciso ultrapassar para fazer do projeto europeu um espaço mais participado e de consciência coletiva. A aprovação por parte do Governo português do voto antecipado e em mobilidade representa uma mudança para tentar reverter o cenário de abstenção nas eleições europeias [em 2019 atingiu cerca de 70%, colocando Portugal no top 6 das maiores abstenções na Europa]. Em entrevista que pode ouvir na íntegra no nosso canal de podcast [ligação abaixo], o responsável reconhece que as eurorregiões fazem todo o sentido numa lógica de aproximação das pessoas que as habitam, e não tem dúvidas em afirmar que têm todo o potencial para fazer pressão pelos seus interesses junto da União Europeia, devendo por isso “ter uma representação em Bruxelas”.

Oiça a entrevista na íntegra no nosso canal de Podcast:

Mais de 30 anos depois da adesão de Portugal [1986], “continua a haver um défice de perceção da população em geral em relação ao que é a União Europeia; que é vista como uma entidade distante, algo abstrata…” Também por esta razão o Parlamento Europeu em Porugal decidiu realizar em conjunto com a Associação Portuguesa de Centros Comerciais sessões com eurodeputados e eurodeputadas, precisamente, nos centros comerciais. A ideia é chamar a atenção de quem numa ida às compras pode contactar de perto com quem tem assento no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. Aconteceu em Loulé, a 22 de Setembro, sendo que o balanço das várias sessões é até agora “positivo”.

Pedro Valente da Silva, Chefe do Gabinete do Parlamento em Portugal, fala-nos sobre os paradoxos cidadãos em relação à União Europeia

Abstenção em Portugal nas eleições europeias 20% acima da média da UE

O Chefe do Gabinete do Parlamento Europeu em Portugal diz que “muito há a fazer para combater a elevada abstenção no nosso país; que está em contraciclo com a taxa europeia” [Portugal atingiu em 2019 cerca de 70% e a média europeia é de cerca de 50%]. Um trabalho que se mostra essencial também junto dos mais jovens que “apesar de não saberem o que é não viver numa União Europeia” são os maiores protagonistas da abstenção. “Podemos discutir se programas como o Erasmus deveriam ter uma taxa de comparticipação mais elevada, mas também já vimos que o Orçamento Europeu não é absolutamente elástico…”. Lembra que a juventude tem nas suas mãos o poder da decisão através do voto e que esta é a melhor forma de se fazer ouvir, nomeadamente sobre as causas que defendem, estando as alterações climáticas no topo das preocupações das pessoas mais novas. Pedro Carvalho da Silva alerta que “por vezes, para posições políticas mais radicais os seus partidários são mais militantes”, sendo que este “vão votar em maior expressão”, avisa.

“Costuma-se dar o exemplo do resultado do referendo do Brexit [início da saída do Reino Unido da União Europeia em 2017]. De várias análises que já foram feitas sabemos que a população mais jovem era mais adepta da continuação do Reino Unido enquanto Estado-membro [da União Europeia], enquanto que a população mais idosa seria mais favorável à saída do Reino Unido. Sabe-se, também, que grande parte das pessoas com posição favorável à manutenção do Reino Unido acabaram por não ir votar porque acreditavam que a maioria era a favor da manutenção. E acordaram no dia a seguir com um murro no estômago…”. Com este caso, Pedro V. da Silva apela a todos para que expressem o seu voto nas urnas nas próximas eleições europeias, exercendo aquele que é o seu direito mais efetivo.

[Foto: Maria de Sousa Laurent] As Eurorregiões servem para defender os interesses das populações e deveriam ter representação em Bruxelas, defende Pedro V. da Silva

A importância das Eurorregiões para aproximar as pessoas e fazer valer os seus interesses em Bruxelas

Questionado sobre a importância da figura das Eurorregiões, o responsável reconhece que fazem todo o sentido numa lógica de aproximação das pessoas que as habitam e não tem dúvidas em afirmar que têm todo o potencial para fazer pressão pelos seus interesses junto da União Europeia. Para Pedro Valente da Silva, as Eurorregiões deveriam, inclusivamente, “ter uma representação em Bruxelas”.

Em destaque nesta entrevista está, também, o tema da certificação biológica do sal ao nível da União Europeia que tanta polémica tem levantado.  Pedro V. da Silva não tem dúvidas que neste e noutros casos é importante falar a nível do Parlamento Europeu com quem tem assento nas comissões que tratam os temas específicos [no caso do sal seriam as comissões da Agricultura e Ambiente]. Depois, explica que é uma questão de “fazer lobi a montante. Ou seja, as pessoas têm de estar atentas desde início e tentar influenciar a proposta da Comissão Europeia quando ela ainda está em fase de discussão pública”.

No caso dos produtores de sal artesanal no território da Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia, o MUROS sabe que foram inúmeras as diligências realizadas, nomeadamente, junto do Governo Português e Comissão de Agricultura no Parlamento Europeu. O risco maior representa que possamos vir a ter identificado como biológico nas prateleiras do supermercado tanto o sal artesanal como aquele que é altamente industrial como o sal de minas e de vácuo.


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