FUNDAÇÕES: «Algum desgaste» na cooperação transfronteiriça poderá ser ultrapassado com a «capacitação de novas gerações»

Novembro 7, 2023
A cidade de Évora acolheu a 25 e 26 de Outubro o X Encontro Luso-Espanhol de Fundações, uma organização da Fundação Eugénio de Almeida, tendo sido o segundo dia dedicado ao tema da cooperação transfronteiriça. Para além dos balanços positivos e o enaltecimento das boas relações existentes entre as várias Fundações, a organização quis tornar este um momento de trabalho com os olhos postos no futuro. Entre vários, os desafios passam por continuar a reforçar a ligação institucional, dar seguimento à aposta na inovação social e ultrapassar “algum desgaste” identificado ao nível das relações transfronteiriças, capacitando “as novas gerações como atores na cooperação”.

No auditório da Fundação Eugénio de Almeida (FEA), anfitriã de um Encontro de dois dias e que contou com a colaboração do Centro Português de Fundações, da Asociación Española de Fundaciones e da Asociación de Fundaciones Extremeñas, estiveram personalidades ilustres e responsáveis no ecossistema português e espanhol das Fundações. De algum modo, falaram a uma só voz quando refletiram sobre a importância filantrópica para o terceiro setor e da necessidade de continuar a dar escala ao que se faz nos territórios unidos pela raia luso-espanhola. Houve um sublinhar da importância de reforçar a colaboração que existe entre Fundações no espaço ibérico e apontaram-se novos modelos de atuação onde a inovação social é «pedra de toque».

No ano em que a FEA está a comemorar os seus 60 anos de idade e a celebrar a obra realizada, Maria do Céu Ramos, Secretária Geral da FEA, mas que falou enquanto Presidente do Centro Português de Fundações, lembrou que as Fundações têm tido um papel fundamental de “aproximação entre os dois países, promovendo a confiança nos cidadãos e o diálogo com os Governos”. A responsável sublinhou também a “encruzilhada” em que as sociedades se encontram com inúmeros desafios de ordens tão diversas como o são o ambiente, o social, o económico e e político; e onde “o compromisso pela paz e cooperação” deve começar desde logo pelas comunidades vizinhas. Ao enfatizar que as Fundações são “lugares de esperança e de ação”, Maria do Céu R. relembrou que a cooperação institucional serve para “mobilizar recursos e aumentar o seu impacto social”, abrindo o leque de cooperação nacional com as Fundações espanholas, europeias e ibero-americanas.

(Foto: FEA) Responsáveis das Fundações portugues e espanholas falaram a uma só voz quando refletiram sobre a importância filantrópica para o terceiro setor 

A cooperação transfronteiriça é determinante, mas precisa manter compromissos mais duradouros

O dia 26 de Outubro foi dedicado ao tema «O Futuro da Cooperação Transfronteiriça com as Fundações». Desde logo podemos constatar pelas várias comunicações feitas que é necessário um continuado empenho dos vários agentes para que a chama da cooperação se mantenha o mais acesa possível e que chegue a todos os níveis da sociedade de um lado e outro da fronteira. A atenção está virada para os novos tempos e para as novas gerações, mas sem esquecer o património de quem já trilhou muito caminho conjunto e identificou os sucessos e insucessos da cooperação transfronteiriça.

Antes de se iniciarem as primeiras comunicações, a moderadora do primeiro painel desse dia, Maite Salazar, jurista com experiência de mais de duas décadas em cooperação transfronteiriça, não teve dúvidas em lançar a ideia de que esta cooperação – que não deve ser confundida com colaboração – não goza, ao contrário do que deveria, de um histórico de compromisso duradouro. Ou seja, considera que é preciso trabalhar com projetos que comprometam as entidades e as pessoas dos dois países a médio e longo prazo, sob pena de não construirmos uma realidade de intensa e verdadeira cooperação à qual possa ser dada uma continuidade sustentável. É de recordar que a União Europeia promove o financiamento de projetos de cooperação transfronteiriça com o objetivo de fazer face aos desafios comuns e explorar o potencial de crescimento das zonas fronteiriças.

Por seu turno, Henrique Sim-Sim, assessor da Secretária Geral e coordenador do Centro de Inovação Social da FEA, falou em “desgaste” no que toca a iniciativas e projetos de cooperação, tendo o responsável questionado as Fundações se estão dispostas a passar de uma “cooperação ocasional para uma cooperação deliberada, intencional”. A vertente da cidadania foi também sublinhada por Henrique Sim-Sim, encarando-a como importante ferramenta para “as nossas comunidades alavancarem espaços de inovação social para responder aos desafios do futuro”. O coordenador da inovação social da FEA incentivou as Fundações de Portugal e Espanha parceiras a capacitarem as novas gerações como atores da cooperação transfronteiriça». Afirmou, também, que “é preciso reiventar uma nova forma de cooperação”, sendo que rematou a sua comunicação citando Alberto Camus que dizia que «a verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente».

 

Henrique Sim-Sim, coordenador da Inovação Social na FEA, incentivou as Fundações de Portugal e Espanha parceiras a capacitarem as novas gerações como atores da cooperação transfronteiriça

A importância dos afetos para dar vitalidade às relações de confiança a partir da raia

Ainda no mesmo painel, Alenjandro Renner, Diretor da Fundación Maimona, preferiu salientar a importância dos afetos para a construção de relações de cooperação transfronteiriça musculada e saudável. Falou da sua experiência pessoal, e não teve dúvidas em afirmar que a cooperação começa na esfera societal com o foco naquilo que mais une os dois povos, sendo a raia lugar privilegiado para verificar esses fenónemos onde as emoções devem cada vez mais ganhar destaque.

Por seu turno, Miguel Ángel Martín Ramos, Delegado em Bruxelas da Fundación Academia Europea y IberoAmericana de Yuste lembrou que todos os projetos que se desenvolvam ao nível da cooperação transfronteiriça “têm de ter as pessoas ao centro e esse é um papel fundamental das Fundações”, sendo que o trabalho em conjunto será tanto melhor quantas fronteiras, “não só físicas, mas muitas vezes mentais” conseguir abolir numa União Europeia que estimula ao trabalho conjunto. Miguel Ángel M. R. apontou que “a educação para o fenómeno da raia é muito importante para o futuro”, considerando que o desenvolvimento de bolsas e intercâmbios juvenis, bem como o incentivo ao empreedimento e inovação devem ser encarados como oportunidades para o desenvolvimento por parte das Fundações.

 


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