A sociedade portuguesa está envelhecida e nela podemos constatar o aumento do número de pessoas com doenças crónicas, muitas incapacitantes e que dependem de cuidados paliativos. Em pleno século XXI, onde impera a falta de tempo e em que se verifica uma diminuição das relações de proximidade, sem esquecer a carência ao nível de saúde pública, uma equipa de parceiros do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e da delegação Faro-Loulé da Cruz Vermelha Portuguesa decidiu quebrar o muro da indiferença e lançar a semente que contribua para reverter o panorama, aumentando a rede em comunidade para dar suporte aos doentes em fim de vida e aos seus cuidadores informais. Oiça a entrevista na íntegra no nosso canal de podcast:
Comunidade pretende criar uma cultura de compaixão
O nome atribuído ao projeto torna bastante evidente o propósito em que este se constitui. A Comunidade Compassiva «Viver ComPaixão» é uma rede que integra os concelhos de Faro, Loulé e São Brás de Alportel, tendo sido uma das ideias vencedores do concurso «Portugal Compassivo – Laços Que Cuidam», do protocolo de cooperação entre a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos e a Fundação “La Caixa”. Esta comunidade compassiva, que foi apresentada a 5 de Março de 2023, cumpre os critérios vigentes de certificação pelo movimento internacional «Charter for Compassion».
Estivemos à conversa com a equipa que lidera a comunidade compassiva «Viver ComPaixão», e do lado do CHUA, o médico paliativista Giovanni Cerullo da Unidade Hospitalar de Faro considera que “é mais um motivo de orgulho pelo facto do CHUA ser o impulsionador da criação de uma comunidade compassiva na região do Algarve, comunidade essa que irá melhorar a qualidade de vida das pessoas e criar uma cultura de compaixão”. O médico realça a importância do facto do CHUA sair “das suas paredes para ir ao encontro dos utentes”.
Por seu turno, Vitor Alua, sociólogo, coordenador da Área de Formação Projetos, representante do projeto pela delegação da CVP de Faro-Loulé realça “que este projeto se realizará, em rede, com mais de 15 parceiros locais, regionais, nacionais e espanhóis de vários setores da sociedade” que estão disponíveis desde o primeiro momento em que a ideia do projeto surgiu. Ou seja, este é um exemplo de uma solução que foi encontrada também em pleno seio da Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia.
É preciso impulsionar o lobby para promover a compaixão na sociedade
Nesta equipa percussora no Algarve, para além de Giovanni e Vítor, temos Ana Margarida Carrancha – enfermeira paliativista – e Andreia Bruno – Coodenadora da Área Social da CVP Faro-Loulé. Ambas, em entrevista no nosso podcast, dão-nos conta das dificuldades que a sociedade atual encontra no apoio aos doentes crónicos e em fim de vida, bem como aos seus cuidadores, mas também nos dizem como é possível, num sistema em rede, aumentar as respostas para as inúmeras carências. Para já encontra-se a decorrer a formação para o primeiro grupo de voluntários que vai fazer a diferença na vida das pessoas que vão auxiliar a comunidade compassiva «Viver ComPaixão». No total serão três equipas de voluntários que vão dar apoio às pessoas com doença avançada e com cuidados paliativos, seus cuidadores e pessoas significativas nas suas vidas. No âmbito do projeto há um grupo de advocay e também são levadas a cabo diversas atividades como «death café», debates, seminários e demais encontros. É preciso falar desassombradamente dos temas por vezes encarados como tabús: a morte e a doença, nomeadamente.
Como explica a enfermeira Ana Margarida C. é importante realçar que o apoio que as pessoas voluntárias vão dar vai basear-se no respeito pelos doentes e pelos seus cuidadores e numa estreita articulação com a equipa paliativista. A capacitação dos voluntários terá em conta as necessidades específicas de cada doente e de cada cuidador. Por seu turno, Andreia Bruno, da CVP – delegação de Faro e Loulé congratula-se com o facto deste projeto unir duas entidades com uma longa história, bem consegue criar rede entre três concelhos. “E é um projeto alicerçado o voluntariado, o que vai muito de encontro à génese da Cruz Vermelha”. A responsável sublinha, ainda, o facto do «Viver ComPaixão» ir conseguindo, paulatinamente, atrair a atenção de entidades patrocinadoras que acreditam na importância deste tipo de projeto, promovendo a sua sustentabilidade.
Quem se quiser voluntarizar por esta causa pode entrar em contacto com as entidades promotoras do projeto.
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