(PODCAST) A interculturalidade está repleta de barreiras [além da pobreza]. Os medos e os receios são fruto de muita desinformação

Março 27, 2024

Há dados oficiais que nos dão conta que cerca de 37,7% da população estrangeira reside em alojamentos sobrelotados. Num artigo publicado pelo MUROS [ler aqui] tínhamos ficado a saber que as tendas e barracas aumentam no Alentejo e é no Algarve que existe a maior taxa de sobrelotação das casas. Ora, muitas das pessoas vulneráveis que vivem estas condições são imigrantes. É no Algarve, a par da Área Metropolitana de Lisboa,  que se concentra a maioria da comunidade estrangeira em proporção da população residente. Estamos em véspera da décima edição da «Semana da Interculturalidade», da responsabilidade da Rede Europeia Anti Pobreza [EAPN] em Portugal que este ano conta com o apoio de duas entidades que são tutela no setor: a AIMA — Agência para a Integração, Migrações e Asilo e a OIM — Organização Internacional para as Migrações. Para o nosso projeto é determinante acompanhar uma iniciativa que ao longo de sete dias vai dialogar, ativar e sensibilizar a população para um fenómeno social como a imigração que tem crescido no país.

População estrangeira representa 5,2% em Portugal
De acordo com os Censos de 2021, estão em Portugal 542 165 pessoas de nacionalidade estrangeira, representando 5,2% do total da população residente. Em conversa com a Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal [EAPN Portugal], nomeadamente com a sua diretora-executiva Maria José Vicente, falámos sobre a «Semana da Interculturalidade» que vai decorrer entre 8 e 14 de Abril em Portugal continental e no arquipélago da Madeira. Em 2024, esta iniciativa da EAPN Portugal, cumpre 10 anos de vida e mais do que nunca é preciso ampliar o grito em prol da interculturalidade em Portugal; país que conhece agora uma importante vaga de imigração e que tem, por isso também, uma tarefa inadiável que passa por promover o cuidado e a inclusão de quem se encontra em solo português. Há uma infografia que se chama «Factos e Números», neste momento a ser ultimada pela EAPN Portugal, e que promete dar a conhecer em breve a informação verdadeira no meio de tanta desinformação nesta sociedade repleta de paradoxos. São inúmeras as atividades e estão abertas à participação de todas as pessoas, quer seja presencial quer seja online.
Eurorregião vai ser palco de webinar dedicado à etnia cigana
No território da Eurorregião AAA vai decorrer um importante webinar a que foi dado o nome «Desafios às comunidades ciganas na Eurorregião Baixo Alentejo, Algarve e Andaluzia», cuja organização é dos núcleos distritais de Beja e Faro EAPN Portugal, da Associação de Mediadores Ciganos de Portugal (AMEC) e da Fundación Secretariado Gitano. Aceda aqui e conheça a todo o intenso programa da «Semana da Interculturalidade» em que o nosso projeto MUROS é media partner [com muito gosto] a partir do Algarve, ou seja, da Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia!
«Semana da Interculturalidade» de Norte a Sul e até ao arquipélago da Madeira

A Semana da Interculturalidade surge, assim, “com o intuito de sensibilizar os cidadãos para a necessidade de uma sociedade intercultural que tenha presente os valores da solidariedade; da não discriminação pela aparência, etnia, género ou nacionalidade; da igualdade; do respeito pela diferença e pela diversidade; da partilha e da inclusão, de forma a garantir uma cidadania mais inclusiva e mais igualitária”. Os distritos envolvidos na iniciativa são: Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Lisboa, Porto, Portalegre, Santarém, Setubal, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e a Região Autónoma da Madeira.

Conheça alguns dados retirados dos Censos 2021 e que se dedicam a informar sobre as pessoas que imigraram para Portugal
De acordo com os Censos de 2021, estão em Portugal 542 165 pessoas de nacionalidade estrangeira, representando 5,2% do total da população residente. A população de nacionalidade brasileira era a mais representativa, totalizando 36,9% do total de estrangeiros. Na última década, alterou-se ligeiramente o grupo das nacionalidades mais representativas, com o reforço dos nacionais de países asiáticos e da União Europeia e o decréscimo da representatividade das nacionalidades dos PALOP.  A Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve concentravam a maioria da comunidade estrangeira em proporção da população aí residente. Os estrangeiros residentes no país eram maioritariamente mulheres (51,0%). A idade média da população estrangeira era de 37,3 anos, valor mais baixo que o obtido para a população de nacionalidade portuguesa. O ensino secundário/pós-secundário era o nível de escolaridade mais representativo na população estrangeira (39,6%). Mais de  68% da população de nacionalidade estrangeira  (dos 15 aos 64 anos)  era economicamente ativa e 60,5% encontrava-se empregada. O trabalho constituía a principal fonte de rendimento da população estrangeira, sendo “trabalhador da limpeza” a profissão mais representada. O Comércio era a atividade económica que empregava mais população estrangeira. A proporção de estrangeiros a exercer a profissão como empregador/patrão era de 14,3%, valor superior ao da população portuguesa. A proporção de população estrangeira que vivia em estruturas familiares do tipo agregado com um núcleo familiar de casal com filhos era de 41,7%, sendo este o enquadramento familiar mais representado. De acordo com os Censos 2021, 44,5% da população estrangeira vivia em núcleos familiares com 1 filho e 38,3% em núcleos com 2 filhos. A maioria da população estrangeira residente em Portugal habitava em alojamentos arrendados (58,0%). Cerca de 37,7% da população estrangeira residia em alojamentos sobrelotados.

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